Esta é a história de uma sobrevivente de um cancro maligno, os seus sofreres, as suas esperanças, as suas alegrias partilhadas com aqueles que continuaram a acompanhá-la num percurso adverso. Ou não. Porque enfrentou a dança das máscaras, o som dos batuques da guerra, a música celestial que os ancestrais entoaram para lhe trazer a cura. Muitas máscaras caíram por terra; outras reergueram-se com o significado múltiplo que cada máscara tem.
Escrever estas páginas ajudou a autora a ultrapassar muitas tensões, muitos momentos sinuosos com que foi confrontada nestes períodos complexos. Mas ao reler os textos, já nesta fase final, decorridos seis anos sobre muitos dos acontecimentos, constatou que os teria esquecido não fora a escrita e as notas que foi tomando ao longo de todo aquele ciclo. Tal como num parto, em que a mãe esquece o esforço por que acabou de passar para acolher nos braços o filho recém-nascido, também o doente oncológico omite a dor e o sofrimento gerado pelas cirurgias, pela quimio, pela radioterapia. E agradece pela nova vida que se lhe oferece.
Um cancro traz uma perspectiva de vida diferente, torna os doentes mais compassivos, permite-lhes encarar as situações de uma forma mais holística depois de ultrapassarmos o stress e as agruras dos tratamentos, dos corredores de hospital, dos internamentos ou da entrada para o Bloco Operatório.
Percorrem um longo caminho, relativizam muita coisa, minimizam outras, e, sem dúvida, valorizam o nascer do sol em cada dia, o entoar do canto dos pássaros em fim de tarde, o cair de uma folha, o despontar de uma flor, o brilho de uma onda que lentamente se espraia na areia.
Estes escritos serão ainda um contributo para aqueles que acabaram de ser diagnosticados e ignoram as cenas dos próximos capítulos sem verem qualquer luz ao fundo do túnel. Porque raramente se fala do cancro colorectal e pouco das ostomias que afectam muito mais pessoas do que se imagina.
É a si, em particular, mas também aos cuidadores e aos profissionais de saúde que este livro é dedicado.